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Humano

  • Foto do escritor: Welington Moraes
    Welington Moraes
  • 11 de mai. de 2015
  • 2 min de leitura

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Tenho na casa escura,

A cura para minha pequenez diante de tudo,

O mundo me faz mal;

Que mal faço eu diante do mundo?

No apartamento de cima toca um samba repetitivo,

Inofensivo ao primitivo ouvido,

Mas que a mim fere como lâmina a cortar a tenra carne,

Que me incomoda como incomoda ao melancólico a

Felicidade.

Na profunda complexa idade de ser ao seu tempo,

Me olho no espelho,

Entre reflexos e penumbras eu me enxergo num velho,

Meus cabelos em prata tomam meu corpo em processo

Violento;

O joelho da direita a muito não é mesmo,

Me dói uma dor que teimo a esconder.

A alma queima como se um pedaço de mim fosse atirado ao fogo,

Ela tenta me escapar como fumaça;

Sua dor mascara a do joelho,

Mas não tenho mais amores a ela do que a qualquer outra dor – amo-as em igualdade,

Aprendida pela maturidade de

Existir.

Ser é sofrimento,

Nesse pensamento me lamento de não o tê-lo entendido na profunda

Juventude,

Tentando amar mais do que pude,

A todas sem ter um porquê,

Uma razão ou um sentido,

Tendo engolido mais do que a boca,

Numa aventura louca de ter no bolso o mundo,

De ter na retina as luzes brilhantes do neon a confundir,

De ter na língua o gosto agridoce da noite,

Açoite de quem sente,

- Essa divisa entre as rotinas impertinentes,

Entre cotidianos esgotantes divididos em partículas diminutas da fatia do tempo -,

Acariciada a face pelo vento soturno,

Que sopra ao ouvido dos poetas,

Dos beberrões,

Dos esquecidos por Deus (esse menino brincante),

Esse errante da poeira cósmica desconhecida,

Esse não ser.

Uma mosca atazana meu ouvido num zumbido comovente:

Qual será sua história?

Que desespero todo é esse em querer morrer por minhas mãos?

Tenho os olhos em seus multi-olhos refletidos e

O mundo me acena com a cabeça,

Concede ao mais forte o poder da morte,

Como um Caesar,

Polegar para baixo,

Me ordena em grito mudo,

Metafisico:

Mata!

Eu desacato a ordem:

Não!

A deixo voar.

Sou um deus compassivo com os pequeninos,

Meus pares.

O frio inox da válvula me desperta,

Há muita água a escorrer pelo ralo que escuro,

Como a casa,

Gargareja um grito gutural de dor que não posso consentir.

Toda dor reprimida desprendo do peito,

O grito ecoa grosseiro,

Animal,

Rasga o tédio dos apartamentos violentando realidades,

Cáustico derrete as paredes da indiferença,

Relembra aos comuns que ali reside um homem,

Meu Deus...

Um homem:

Um animal castrado e dócil na aparência,

Mas que sofre (Quem diria? Ele sofre...) a dor do transitar,

O parecer,

O ser,

O existir.

Me socam a porta, como o frustrado soca o saco:

“Senhor! Tudo bem? Senhor! Abra a porta...”

O estranho velho ao espelho me sorri;

“Abra a porta...”, me diz ele.

“Deixem contemplar o retrato da angústia claustrofóbica de teu

Casulo...”

Tenho na casa escura,

A cura para minha pequenez diante de tudo,

O mundo me faz mal;

Que mal faço eu diante do mundo?

Com o rosto conhecido retribuo o sorriso e abro a porta,

Para que os príncipes contemplem um humano,

Um medíocre, sanguíneo e cotidiano

Humano.

 
 
 

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