
Curta Cúmplice
Cúmplice (Curta-metragem - texto na integra)
INT. COZINHA – DIA
SEQUÊNCIA 1
Abrimos com a tela toda em estática, como se estivesse fora do ar.
CARACTERES em superposição (Primeiro um, depois o outro):
BANALIDADE
s.f. Caráter do que é banal: a banalidade de um fato.
Coisa ou ação banal; trivialidade, vulgaridade: dizer banalidades.
Na época feudal, servidão consistente no uso obrigatório e público de um objeto pertencente ao senhor.
VIOLÊNCIA
s.f. Qualidade ou caráter de violento. Ação violenta: cometer violências. Ato ou efeito de violentar. Opressão, tirania: regime de violência. Direito Constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém.
A tela sai da estática e entra em um canal de TV, direto no programa Brasil Urgente (ou qualquer similar) da Band.
O canal é mudado novamente, indo agora ao canal onde passa o desenho: TOM e JERRY.
O canal é mudado pela ultima vez, agora para um programa de culinária qualquer.
SEQUÊNCIA 2
A câmera abre para um plano geral, mostrando o personagem JOSÉ a frente do fogão, ele usa um avental todo manchado de sangue. Ele segura as mãos um controle remoto. Demonstra satisfação.
JOSÉ
Agora sim.
Enquanto passam os créditos iniciais ao som de “People are stranger” do The Doors, JOSÉ cozinha. Sente prazer nisso, dança ao cozinhar. A câmera permanece no mesmo plano anterior, pegando o personagem de costas. Ao fim dos créditos ele se vira de frente ao quadro, com uma panela nas mãos.
JOSÉ
Voilá!
A cena se congela por alguns segundos. Entra o título completando a foto.
CÚMPLICE.
SEQUÊNCIA 3
Corta para um plano médio, de modo que se possa ver o personagem JOSÉ sentado a ponta da mesa. Ele está sem o avental. A sua frente um prato de comida. Ele pega um guardanapo e coloca ao pescoço. Começa a comer. Enquanto come, conversa com outro personagem não apresentado ao público ainda.
JOSÉ
De uma coisa eu não posso reclamar. A gente vive no melhor país quando o assunto é comida. Em São Paulo eu criei uma teoria: quanto mais suja a birosca, mais delicioso é o sabor da feijoada. Sabe como é né... ali vai rabo de porco, joelho de porco, orelha de porco. E porco, como o próprio nome já diz, não gosta de limpeza. Nem depois de morto! Isso é que é ter um espírito de porco...
JOSÉ desata numa gargalhada forçada. Aos poucos vai parando de rir.
JOSÉ
O que foi? Não achou graça?
SEQUÊNCIA 4
Corta para a outra ponta da mesa. Mesmo quadro que o anterior, só que agora mostrando o personagem até então oculto, ele está completamente envolto por plástico bolha.
SEQUÊNCIA 5
Corta para um quadro lateral da mesa, onde se pode ver José e o outro personagem.
JOSÉ
Eu na sua posição também não acharia. O humor depende muito do ponto de visão, sabe? É como aquela velha piada, o menino chega para a mãe e diz: mamãe, mamãe eu to cansado de rodar... Aí ela responde: cala a boca menino, senão te prego a outra perna... Pois é, contei essa na reunião de pais e mestres da minha pequena, ninguém riu. Mas aqui, nessa mesa mesmo, teve um cara que quase morreu engasgado de tanto dar risada... E pela mesma piada. É... tudo depende da posição. Cheguei até a perder a fome, senso de humor é tudo!
SEQUÊNCIA 6
Corta para uma cena vista de cima, pegando toda a mesa. JOSÉ agarra violentamente o outro personagem e o joga em cima da mesma.
JOSÉ
Sabia que os pés humanos tem 26 ossos. Eu gosto de começar por eles... Os pés dizem muito da personalidade de uma pessoa. Eu até criei uma teoria: quanto mais integro o homem é, mais ele aguenta a dor de ter um osso do pé quebrado. Eu ia até fazer uma tabela, mas sabe como é... não entendo nada, nada de Excel. Até tenho um sobrinho, desses tipo: Zé Punheta que vive enfornado no quarto, atrás do computador. Então... ia ficar complicado explicar para ele o porque da tabela, achei melhor deixar para lá.Onde é que eu...
Toque de telefone.
SEQUÊNCIA 7
Close no celular sobre a mesa. JOSÉ atende. A câmera acompanha o movimento. Close em JOSÉ.
JOSÉ
Alô? Oi amorzinho. O papai tá com saudade também. Oi? Tá dodói ainda? Não se preocupa que o papai volta logo tá? O papai tá trabalhando muito... É, cansa um pouco, mas logo acaba. Beijinhos... Alô? Oi amor. Amanhã logo cedo eu embarco de volta. Não se preocupa que eu compro o remédio da pequena na viagem. Beijo, te amo também... Se cuida.
JOSÉ desliga. Começa a cantarolar “People are stranger”. Vai em direção ao segundo personagem. A câmera acompanha o seu movimento, parando em frente a TV. A tela da TV enche o quadro. Passa o desenho: “Comichão e Coçadinha” dos Simpsons. Sobe os créditos ao som de “People are stranger”. Ao fim dos créditos, a tela sai fora do ar, estática.
CARACTERES em superposição:
"Vivemos num mundo onde temos que nos esconder para fazer amor, enquanto a violência é praticada à luz do dia."
John Lennon.
FIM.
STORYBOARD Conceitual


curta
PENSAMENTO COLETIVO
ROTEIRO (integra)
FADE IN:
EXT. RUA DE UMA CIDADE QUALQUER – DIA
Imagem de tráfego, a câmera vai acompanhando um ônibus, no
seu itinerário normal a coletar seus passageiros. Corta para
o INTERIOR DO COLETIVO PÚBLICO.
INT. COLETIVO PÚBLICO – DIA
Um ônibus de linha normal, a câmera vai passando de
passageiro a passageiro em plano seqüência, a cada close, em
OFF, ouve-se o pensamento do mesmo até chegar ao motorista.
PASSAGEIRO 1
(MELANCÓLICO)
Tudo que passa por mim são postes e
arrependimentos...
PASSAGEIRO 2
(PENSATIVO)
Seria essa chuva o reflexo de
minhas angustias?
PASSAGEIRA 3
(AGITADO)
Se eu corresse tão depressa quanto
essa lata velha, já estaria na
minha faculdade!
PASSAGEIRO 4
(NERVOSO)
Aquela vaca, ela pediu por isso.
Será que vão conseguir me pegar,
será que já acharam o corpo?
PASSAGEIRA 5
(ESPERANÇOSA)
Eu ainda não to acreditando, eu tô
grávida! Esse filho vai mudar a
minha vida, eu tenho certeza que
vou me acertar com o Cláudio!
PASSAGEIRO 6
(FELIZ)
Como será a faculdade? Vida de
calouro é barra, mas vou em frente,
Agora eu sou bicho!!!
COBRADOR
(CANSADO)
Amanhã é minha folga, finalmente,
já não estava agüentando mais...
PASSAGEIRO 7
(IDOSO)
Ai minhas costas!
MOTORISTA
(Chorando sutilmente, disfarçando-o para os demais)
Eu já não agüento mais essa
angustia. Viver assim nessa mentira
é ruim de mais. Já chega disso, por
que eu não consigo ser eu mesmo,
por quê? O que eu faço da minha
vida? Já chega! Eu não quero mais
sofrer assim! Isso vai acabar
hoje...
CRÉDITOS FINAIS
Som de pneus cantado, e de batida.
Entra a música final.
FADE OFF.
Xerloque do Morro - Ep. Piloto (Vermelho Sanguineo)
ROTEIRO (em andamento)
EXT.ALTO DA FAVELA.NOITE
Vemos XERLOQUE preso dentro de pneus, extremamente ferido,
numa ferramenta de extermínio conhecida por microondas. Ele
tem 30 anos e a aparência de um homem comum.
Há um homem que conversa com ele (VOZ MISTERIOSA), que não
será agora apresentado ao público.
VOZ MISTERIOSA (O.S.)
Você se acha muito esperto, não é
seu moleque! Vou perguntar pela
última vez: Onde está o Bruxo do
Cosme Velho?
XERLOQUE fica em silêncio.
Dois capangas do homem da VOZ MISTERIOSA começam a derramar
gasolina em XERLOQUE.
O homem da VOZ MISTERIOSA acende um cigarro, deixando apenas
aparecer sua silhueta na penumbra, evidenciando a ponta do
cigarro aceso.
Câmera lenta no movimento do homem da VOZ MISTERIOSA,
jogando o cigarro na direção de XERLOQUE. A câmera acompanha
o cigarro o deixando em close, desfocando, ao fundo,
XERLOQUE.
CORTA PARA:
VINHETA DE ABERTURA DA SÉRIE
VAI PARA:
EXT.RUELA ESTREITA ENGARRAFADA.DIA
Buzinas e pessoas gritando, enfurecidas.
Câmera segue por entre os carros, até chegar a um fusca
parado, atravessado na rua, de portas abertas. Ele é o
motivo de tanto engarrafamento.
Dentro vemos uma mulher em trabalho de parto.
A sua volta alguns curiosos.
De joelhos, a frente das pernas abertas da mulher grávida,
está DEMÓSTENES, 45 anos. As suas roupas são de uma
aparência humilde, porem os óculos que ostenta lhe dão uma
feição intelectual.
DEMÓSTENES
Respira dona... Tipo cachorrinho.
Sabe aqueles caras que fazem marcha
atlética, aquela corrida da
reboladinha. Então, é só pensar que
a senhora tá fazendo marcha
atlética. Respira igual...
Câmera sobe, pegando a rua em geral, dando idéia ao
transtorno causado pelo acontecido.
Os gritos da mulher grávida se sobrepõem ao da balburdia a
sua volta.
Um choro de bebê silencia todo o resto.
INT.QUARTO DE MATERNIDADE.DIA
Vemos a mulher que estava em trabalho de parto deitada,
dando de mamar ao bebê.
DEMÓSTENES está sentado a ponta da cama.
DEMÓSTENES
Olha dona, eu sempre lia sobre
esses acontecidos, mas assim na
vida real é bem mais emocionante.
Meu nome é DEMÓSTENES, DEMÓSTENES
Machado de Assis. Todo mundo me
conhece como Bruxo do Cosme Velho.
Sabe, como o famoso escritor...
aquele da galhada. E o seu nome,
qual é?
A mulher fica em silêncio. Evita contato visual com
DEMÓSTENES.
DEMÓSTENES (CONT.)
Você não fala? É algum problema de
saúde? Nasceu assim?
(Percebendo que a mulher o
evita, fica em silêncio por
breves segundos)
E o nome da criança? É um menino,
deve ter um nome forte...
MULHER COM O BEBÊ
Escolhe você... Sem você ele nem
teria nascido. Você foi como um
anjo da guarda.
DEMÓSTENES
Ah! Você fala. Bom, eu nunca me dei
muito bem com nomes, a perceber
pelo meu próprio. Vamos ver...
(Pensativo)
Esse não... Esse é muito comum...
Eu estou lendo um livro ótimo sobre
um detetive particular, um tipo
desses geniais: Sherlock Holmes, de
Arthur Conan Doyle. O que você acha
de Sherlock...
MULHER COM O BEBÊ
Sherlock... mas como se escreve
isso?
DEMÓSTENES
Bom, não pode ser do modo original,
nunca iriam escrever certo. Podemos
abrasileirar: XERLOQUE, com xis no
inicio e que no final.
A mulher segura o bebê para cima, o olhando direto nos
olhos.
MULHER COM O BEBÊ
XERLOQUE... de Assis, para
homenagear o seu anjo da guarda.
A mulher beija o filho longamente.
MULHER COM O BEBÊ (CONT.)
Você pode ficar um pouco com ele?
Preciso muito ir ao banheiro.
DEMÓSTENES
Claro, sem problemas. Assim eu e o
Xerloque vamos nos conhecendo um
pouco mais.
DEMÓSTENES pega o bebê ao colo.
A mulher se levanta e sai.
DEMÓSTENES fica a ninar o bebê.
Sequência de imagens denotando passagem de tempo.
VAI PARA:
INT.CORREDOR DA MATERNIDADE.DIA
DEMÓSTENES com o bebê aos braços fica a procurar a mãe.
Algumas enfermeiras notam o desespero de DEMÓSTENES.
Os seguranças da Maternidade são acionados.
CORTA PARA:
INT.CASA DE DEMÓSTENES.NOITE
DEMÓSTENES sentado a frente de uma cama onde dorme o bebê.
Pensativo, fica a olhar fixamente um papel a sua mão.
Close no papel, onde se lê: Certidão de Nascimento; Na
certidão o nome do pai está como: DEMÓSTENES Machado de
Assis; O da mãe: Maria Capitolina Santiago.
DEMÓSTENES se levanta e vai até uma prateleira cheia de
livros. Pega um e o coloca ao lado do bebê.
O bebê e o livro formam um quadro tendo a cama como moldura.
A capa se lê: Sherlock Holmes de Arthur Conan Doyle.
EXT.PÁTIO DA CASA DE DEMÓSTENES.DIA
Flashes mostrando o crescimento da criança, tendo sempre
junto a si o livro de Sherlock Holmes.
As brincadeiras envolvem sempre investigações.
Veste em algum momento o chapéu e usa um charuto curvo para
fazer bolhas de sabão.
INT.SALA DE AULA.DIA
XERLOQUE está aqui com 15 anos.
Vemos a professora fazendo a chamada.
Ao chamar o nome XERLOQUE, todos os alunos caem na
gargalhada.
XERLOQUE, visivelmente chateado, se levanta rispidamente e
vai em direção a porta.
XERLOQUE
Um dia todos vocês irão se lembrar
desse nome: XERLOQUE! Irei me
tornar o investigador mais
conhecido desse país. Em todos os
cantos dirão: XERLOQUE, XERLOQUE,
XERLOQUE...
FUSÃO PARA:
INT.SUPERMERCADO.DIA
Um alto-falante anunciando:
AUTO-FALANTE (O.S.)
XERLOQUE, XERLOQUE, XERLOQUE, favor comparecer ao escritório da direção imediatamente.
Vemos XERLOQUE, agora com 30 anos, vestindo um uniforme do
supermercado, ele é o caixa.
Levanta-se e vai até o escritório.
INT.ESCRITÓRIO DA DIREÇÃO DO SUPERMERCADO.DIA
XERLOQUE entra e senta-se a frente da mesa do diretor.
DIRETOR DO SUPERMERCADO
XERLOQUE, XERLOQUE, XERLOQUE...
Quantas vezes eu vou ter que ouvir
o seu nome relacionado a problemas
aqui dentro do meu estabelecimento?
XERLOQUE
Desculpe senhor, mas aquele homem
aparentava estar escondendo algo...
DIRETOR DO SUPERMERCADO
Você, alem de correr atrás do
senhor Simas pelo supermercado
inteiro, pulou sobre o pobre homem,
dando-lhe um mau jeito nas costas.
Sabe o quanto eu estou gastando com
massagistas e fisioterapeutas, só
pelo fato de evitar maiores
constrangimentos e problemas
futuros com advogados e o escambau?
XERLOQUE
Mas senhor, eu deduzi, pelo jeito
de andar...
DIRETOR DO SUPERMERCADO
Deduzi, deduzi... Chega! Você é um
reles caixa de supermercado que,
por infelicidade de um pai
lunático, recebeu o nome de
XERLOQUE. Você não é o personagem,
você não é investigador e nem
inglês você sabe falar. Então caia
na real. Você tem 30 anos e
continua morando aqui na favela e
ainda por cima trabalhando como
caixa de supermercado. Você é tudo,
menos parecido com Sherlock Holmes.
Pegue suas coisas no armário e suma
da minha frente. Você está
despedido!
XERLOQUE
Mas senhor...
DIRETOR DO SUPERMERCADO
Sem mais. Vou fechar os meus olhos
e contar até cinco. Quando abri-los
não quero ver a sua cara feia mais
aqui. Um, dois, três...
CORTA PARA:
EXT.PÁTIO DA CASA DE DEMÓSTENES.NOITE
Paramédico fazendo massagem cardíaca em DEMÓSTENES caído.
PARAMÉDICO
... quatro, cinco... Sem pulso
ainda. Vamos tentar novamente. Um,
dois, três, quatro, cinco...
Câmera sobe, mostrando várias pessoas em volta da casa de
DEMÓSTENES e continua subindo até vermos a favela como um
todo de luzes e barulho. Então a câmera mergulha em outro
ponto próximo, até encontrar um XERLOQUE chateado a caminhar
pelas ruas escuras do morro.
EXT.RUAS DA FAVELA.NOITE
Toca o celular, XERLOQUE atende.
XERLOQUE
Alô? Alô? Oi Dona Neide, a ligação
tá muito ruim fala mais alto... O
meu pai? O que que tem com meu pai?
Eu não estou conseguindo ouvir...
De súbito o celular é arrancado da mão de XERLOQUE.
Ele começa, então, a correr pelas ruas apertadas do morro,
atrás do ladrão.
Após alguns minutos de correria, XERLOQUE, ao sair de uma
viela apertada e entrar na rua que dá acesso a entrada da
favela é quase atropelado por uma ambulância.
Com o susto do acontecido, ele caí.
A ambulância segue seu rumo, com uma sirene estridente a
berrar.
XERLOQUE levanta-se. Ele está com escoriações leves e
visivelmente aborrecido com tudo.
Vai em direção a sua casa.
Música, que servirá de fundo as cenas que seguem. Serão
flashes, que servirão de passagem de tempo a história.
INT.CASA DE DEMÓSTENES.NOITE
Ao chegar em casa, XERLOQUE encontra algumas pessoas
chorando.
Dona Neide lhe conta sobre o acontecido.
XERLOQUE corre para a rua.
CORTA PARA:
INT.HOSPITAL.NOITE
XERLOQUE chega esbaforido ao hospital.
Atendente não o deixa entrar.
XERLOQUE força a entrada e derruba a atendente.
Chegam alguns seguranças.
CORTA PARA:
INT.CENTRO CIRÚRGICO.NOITE
DEMÓSTENES todo entubado, sendo preparado para a cirurgia.
CORTA PARA:
INT.HOSPITAL.NOITE
XERLOQUE sendo imobilizado pelos seguranças.
Uma enfermeira se aproxima e dá uma injeção em XERLOQUE.
XERLOQUE começa a desmaiar.
CORTA PARA:
INT.CENTRO CIRÚRGICO.NOITE
DEMÓSTENES começa a desfalecer.
Contador de batimentos cardíacos começa a cair.
Jogo rápido de imagens entre XERLOQUE e DEMÓSTENES, até o
momento que XERLOQUE desmaia e DEMÓSTENES morre.
(CONTINUA...)
Plagium
Por
Welington Moraes
ROTEIRO (completo)
FADE IN
INT.CASA.NOITE
Numa sucessão de flashs rápidos em super close nas partes do
corpo de Antônio, o texto é dado com a voz original de
Laurence Olivier, como se Antônio fosse dublado por ele.
O ator deve ter a aparência de Sir Olivier, assim como as
nuances e os maneirismos de sua interpretação.
A montagem deve dar a impressão que o texto é dado num
teatro de verdade, como sendo uma apresentação do próprio
Olivier.
O texto original em inglês terá as legendas.
ANTÔNIO
To be, or not to be, that is the
question:
Whether ’tis nobler in the mind to
suffer
The slings and arrows of outrageous
fortune,
Or to take arms against a sea of
troubles,
And by opposing end them? To die,
to sleep,
No more; and by a sleep to say we
end
The heart-ache, and the thousand
natural shocks
That flesh is heir to: ’tis a
consummation
Devoutly to be wished. To die, to
sleep;
To sleep, perchance to dream - ay,
there’s the rub:
For in that sleep of death what
dreams may come,
When we have shuffled off this
mortal coil,
Must give us pause - there’s the
respect
That makes calamity of so long
life.
For who would bear the whips and
scorns of time,
The oppressor’s wrong, the proud
man’s contumely,
The pangs of despised love, the
law’s delay,
The insolence of office, and the
spurns
That patient merit of the unworthy
takes,
When he himself might his quietus
make
With a bare bodkin? Who would
fardels bear,
To grunt and sweat under a weary
life,
But that the dread of something
after death,
The undiscovered country from whose
bourn
No traveller returns, puzzles the
will,
And makes us rather bear those ills
we have
Than fly to others that we know not
of?
Thus conscience does make cowards
of us all,
And thus the native hue of
resolution
Is sicklied o’er with the pale cast
of thought,
And enterprises of great pith and
moment,
With this regard their currents
turn awry,
And lose the name of action.
(Legenda)
Ser ou não ser, eis a questão: será
mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e
flechas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos
alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de
provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer..
dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a
angústia
E as mil pelejas naturais-herança
do homem:
Morrer para dormir... é uma
consumação
Que bem merece e desejamos com
fervor.
Dormir... Talvez sonhar: eis onde
surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da
existência,
No repouso da morte o sonho que
tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a
suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos
infortúnios.
Quem sofreria os relhos e a irrisão
do mundo,
O agravo do opressor, a afronta do
orgulhoso,
Toda a lancinação do mal-prezado
amor,
A insolência oficial, as dilações
da lei,
Os doestos que dos nulos têm de
suportar
O mérito paciente, quem o sofreria,
Quando alcançasse a mais perfeita
quitação
Com a ponta de um punhal? Quem
levaria fardos,
Gemendo e suando sob a vida
fatigante,
Se o receio de alguma coisa após a
morte,
-Essa região desconhecida cujas
raias
Jamais viajante algum atravessou de
volta -
Não nos pusesse a voar para outros,
não sabidos?
O pensamento assim nos acovarda, e
assim
É que se cobre a tez normal da
decisão
Com o tom pálido e enfermo da
melancolia;
E desde que nos prendam tais
cogitações,
Empresas de alto escopo e que bem
alto planam
Desviam-se de rumo e cessam até
mesmo
De se chamar ação.
Ao fim do solilóquio, a câmera abre, demonstrando ser uma
reunião de amigos de aparência abastada, regada a bebidas,
cigarros e drogas.
As pessoas a sala batem palmas a Antônio, fazendo algazarra.
Antônio cumprimenta a plateia.
ANTÔNIO
Quem vai ser o próximo?
FERDINANDO
Sou eu. Espera aí que eu vou fazer
o download...
Ferdinando vai até um computador ao canto da sala e digita:
ELVIS PRESLEY - SUSPICIOUS MIND
Pega o cabo USB do CPU e o pluga atrás da cabeça, na base da
nuca.
Baixa o conteúdo direto a sua mente, ao estilo MATRIX.
Pega um violão e vai até onde a pouco estava Antônio e
começa a cantar e a dançar igual a Elvis.
Câmera vai se afastando, mostrando ao fundo a festa e as
pessoas felizes.
CRÉDITOS INICIAIS
Ao fundo, imagens de pessoas a margem da sociedade, como
mendigos, andarilhos, vivendo em guetos, favelas, etc.
Alguns desses tentam ganhar a vida com expressões artísticas
como malabares, teatro de rua, música, etc.
Ao fim dos créditos, com um fundo de tela negro aparece o
letreiro:
NUM FUTURO NÃO MUITO DISTANTE...
EXT.RUA.DIA
Dionísio fala ao telefone celular.
A passos rápidos, de paletó e gravata, segue impaciente.
DIONÍSIO
Eles tem que entender que o mundo
mudou. A descoberta da indução
cerebral por meios externos, assim
como o datachip que transforma a
nossa mente num supercomputador,
transforma qualquer um em qualquer
coisa que ele queira ser. Estamos
democratizando a genialidade...
CORTA PARA
INT.ATELIÊ DE PINTURA.DIA
Várias pessoas, conectadas pela nuca a computadores, pintam
igual ao estilo de vários pintores famosos como Monet, Van
Gogh, Picasso e Leonardo da Vinci.
DIONÍSIO (OFF)
(Continuação)
... Estamos igualizando as mentes
num processo nunca antes visto... E
daí que é caro? Você acha que é
barato interpretar como um Marlon
Brando, ou fazer cálculos como um
Stephen Hawking? O dom tem os seus
valores...
VOLTA PARA
EXT.RUA.DIA
Dionísio para em frente a uma barraca de comida.
DIONÍSIO
Não venha me chamar de hipócrita. O
valor que eu cobro por oferecer a
divindade a reles mortais, é uma
cifra irrisória diante de tamanha
dádiva. Agora me dá licença que eu
vou comer...
(Desliga o telefone)
Ô meu chapa, você faz alguma coisa
no estilo do Antonin-Marie Carême?
COZINHEIRO DE RUA
Aquele que cozinhava para o
Bonaparte? É claro! É minha
especialidade...
DIONÍSIO
Me dá o que tu tiver de mais caro
dele...
COZINHEIRO DE RUA
É pra já patrão...
O cozinheiro pluga um cabo a nuca e digita o nome de
Antonin-Marie a um CPU.
DIONÍSIO
Cara, desculpa a minha indiscrição,
mas como tu conseguiu dinheiro pra
instalar um datachip?
O cozinheiro levanta a camisa demonstrando uma cicatriz na
parte próxima ao rim.
COZINHEIRO DE RUA
A gente tem que dar um jeito. Eu
conhecia um cara que conhecia um
cara e tchum... Tem empresa que já
intermedia um rim por um datachip.
Eles oferecem até anestesia de
graça, é um negoção... Tá
interessado?
DIONÍSIO
Não cara, mas valeu... Quanto é
prato pra eu ir pagando já?
COZINHEIRO DE RUA
Quinze mangos...
DIONÍSIO
Só isso?
COZINHEIRO DE RUA
Sabe como é... No começo até que
dava pra cobrar mais caro, quase
ninguém fazia. Mas agora isso
escorre igual água. Tem um cara,
numa rua alí de cima, que faz um
Antonin-Marie por cinco pilas. É se
rebaixar muito...
DIONÍSIO
Toda genialidade tem seu preço a
pagar. Van Gogh morreu pobre sabia?
COZINHEIRO DE RUA
Deve ter morrido mesmo. Outro dia
um cara me ofereceu um Van Gogh
numa sobra de comida, disse que
tava faminto. Coitado. Dei a comida
pro cara e usei o quadro para
aumentar o meu fogo aqui, tava sem
gás... Sabe como é, a gente tem que
dar um jeito. Escuta, teu rosto não
me é estranho, tu não é o cara que
inventou o data? Deunisio,
Deucídio...
DIONÍSIO
Dionísio, sou eu mesmo. Olha, pega
aqui os quinze, mas não precisa
mais fazer o prato não, perdi a
vontade. Tu faz cachorro-quente?
COZINHEIRO DE RUA
Seu Dionísio, faço um no estilo de
Anton Feuchtwanger, o cara que
inventou o hot dog, que é uma
beleza...
DIONÍSIO
Não precisa cara, quero um simples,
como os de antigamente...
COZINHEIRO DE RUA
Ah, esses são mais caros, por
trezentinho te faço um...
DIONÍSIO
Pode fazer, mas não diz para
ninguém que comi um desses aqui...
COZINHEIRO DE RUA
Que isso patrão, minha boca é mais
fechada que a caixa de um relógio
suíço... Por falar nisso conheço um
cara que faz um por 20 pratas, tá a
fim?
DIONÍSIO
Não... Hoje só o cachorro-quente me
basta.
COZINHEIRO DE RUA
Beleza patrão. Sabe como é, a gente
tem que dar um jeito...
DIONÍSIO
É, eu sei...
CRÉDITOS FINAIS
Câmera sai dos dois e para a frente de um cantor de rua, que
canta BLOWIND IN THE WIND com a voz de BOB DILAN.
FADE OUT