Sobre Homens, Sonhos e Ratos
- Welington Moraes
- 24 de abr. de 2015
- 1 min de leitura
No sonho o ruído se amplifica,
Formando um rói que rói incomodante,
Acordado em meio à treva apavorante,
O bicho então ao canto identifica.
Um rato de bigodes curiosos,
Pequeno mas gigante ao medo seu,
Silhueta de monstro em pleno breu,
Caminha entre fendas, espaços mortos.
O homem de insônia adquirida,
Arma-se de sapatos, uma vassoura,
Sucumbindo a sede sádica, vingadora,
De acabar então de vez com aquela vida.
O homem que de vazio presente ao peito,
Uma melancolia a rondar por sobre a fronte,
Que demorava a dormir por toda a noite,
Esperando a morte incerta em seu leito.
O homem que sonhava finalmente,
Depois de tanto adormecer esvaziado,
Mas agora do seu sono era arrancado,
Por um bicho, um reles bicho deprimente.
No momento crucial, a morte certa,
Então no seu olhar o homem fita,
Por um breve momento então hesita,
O sentimento de compaixão lhe desconcerta.
Percebe que o outro então é ele,
Sua feição no seu focinho ele enxerga,
Seus medos, a incerteza que carrega,
O escuro de seu quarto, ou será dele?
O jogo da morte agora inverte,
Homem versus bicho, quem é quem?
A morte servindo a todos e a ninguém,
O sentido da existência subverte.
O sapato, a arma a mão trocada,
Num movimento de precisão, uma estocada,
Atinge o seu destino - o fim é certo.
O homem então de grito apavorante,
Acorda enfim de sonho agonizante,
Ele olha, mas não há bichos ali por perto.
Apenas um homem sonhando em ser um rato,
No escuro da solidão de seu quarto.
Ou será dele?

Comments