Sobre Cascas e Corpos
- Welington Moraes
- 8 de abr. de 2015
- 1 min de leitura
Tinha medo de andar com a cabeça erguida, De ser guilhotinado por olhares alheios. Meus olhos apontavam a amarga terra pisada, Muda em seu resignado destino. Não conseguia ver amores perdidos, Amigos nunca conhecidos, Horizontes despontados, A vida apressada das rodovias, Mulheres seminuas de seus pudores nas esquinas, Nuvens, Pássaros, O sol. Enxergava porem, Flores pisadas, Pegadas de um passado passante, Listras amarelas, Pernas de todas as formas e conceitos, Folhas com maus poemas - todos publicados, Rastros de vidas que não eram minhas. A luz aquecida da lareira formava na parede um espectro. Temia uma deformidade formada de meus receios, Todo esse céu estrelado que a muito não conhecia. Isso até ontem. Acordei sem minha casca, Meu antigo corpo, Metamorfoseado não em um inseto, Tinha me tornado um homem, Dotado de defeitos e imperfeições, Mas com uma cabeça perfeitamente disposta sobre o pescoço. Hoje vi um mundo novo, Formado por pessoas que pendiam a cabeça ao chão, As mesmas sombras de minha parede, Espectros presos em cascas chamadas de vida. Dos que tinham a cabeça perfeita nunca conheci pessoalmente, Ainda que os procure olhando por sobre a multidão.

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