O Homem Que Se Esqueceu De Nascer
- Welington Moraes
- 8 de abr. de 2015
- 2 min de leitura
Na loucura descabida que é o mundo, Sempre a girar, uma mania antiga que ele tem, Vivia um senhor a que todos o queriam bem, Num casebre velho, aconchegante e imundo. Esse senhor levava um segredo ao peito, Mas o seu olhar assim meio sem jeito, Denunciava os mistérios que ele abraçava. Denunciava e muito esse seu jeito recolhido, E apesar de muito amado e querido, Essa aura misteriosa a muitos instigava. O mistério que eu sei bem o que é, Afinal a historia é minha e eu invento o que quiser, É algo que muitos julgavam impossível, Seja a homem, menino ou mulher, Animal, vegetal ou qualquer coisa que termine com al, Parente, sentimental ou sensível, Tudo o que vive e está prestes a morrer, O mistério que ele carregava é o esquecimento que teve de nascer. Mas como? Pergunta-me o ouvinte, estarrecido, Isso não existe, é invenção de gente que não sabe escrever, Um homem que existe se esquecer de nascer é como vento sem ar, Querer e não amar, Falar sem nunca ter ouvido. Eu digo que pode, E minha mentira não é mais mentira do que a própria vida, Que todos vivem sem ter questão de entender, Só por que eu digo que um senhor barbado se esqueceu de nascer, Não tem o porquê de ser questionado, Porque este conto é embasado numa licença poética muito antiga que é o Faz de conta, Usado e aproveitado sempre quando o autor não sabe dar razões a suas Loucuras. Mas voltamos ao tal senhor desnascido. Ele, em já avançada idade, temia em esquecer-se de morrer, E, Para quem já teria visto muita coisa neste mundo sofrido, Nada era mais cruel do que uma vida eterna, Pois ele sabia que os prazeres e desprazeres da vida são feitos para serem desfrutados no tempo certo. Seu destino era incerto, Queria chegar logo ao ultimo verso, Saber o final desta historia, Mas historia boa tem suspense, E antes que alguém diga ou pense, Eu afirmo, Isto aprendi na cartilha: Como escrever sem métrica ou estilo em doze lições. Esclarecido esse assunto vamos direto ao ponto: Como não nascer e morrer? É até cômico, uma pessoa esquecer-se de nascer e ter a máxima vontade de morrer, Não nascer seria não existir? Como morrer sem existir? Mas o senhor existia e muitas das vezes sozinho sorria ao lembrar-se de seu Esquecimento. Mas esse não é o momento para gracejos, E sim do desejo dos desejos: Morrer. Então, Nessas coincidências que só acontecem na literatura, Ele conheceu uma jovem que existia ao contrário, Inverso era também o horário que o relógio dela marcava. Era uma sábia, muito bela e pura, E o mais importante é que já teria morrido, Lembrava-se muito bem do acontecido e poderia a ele ensinar a desfalecer. Os dois viveram felizes, Ele sem ter nascido aprendeu a esperar o destino e ela morrera no dia do seu Nascimento. Estranha historia, Mais estranho é como ela me parece tão bela. Fico a pensar que não me lembro do dia em que nasci...

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