Réquiem Para o Mundo
- Welington Moraes
- 8 de abr. de 2015
- 2 min de leitura
Foram todos dizimados na terra, Sobrando apenas os artistas. Esse povo que acostumado com a fome, Fez do fim apenas um dia a mais. Uma segunda-feira monótona e sem felicidade anunciada. Nas ruas há pilhas de corpos bem vestidos, Os cadáveres usam ternos, Tailleurs, Sapatos de couro e camurça. Joias brilham envoltas do vermelho sanguíneo das vidas que se foram. Há dinheiro na calçada, Misturado a um pouco do pobre rico que caiu da janela do oitavo andar daquele belo escritório de advocacia. O fim se anunciou com um slogan publicitário: “Faça tudo que deseja hoje, Amanhã poderá ser tarde demais.” Muitos riram da propaganda, Muitos não a levaram a sério, Um redator reclamou por ser o slogan cumprido demais. Assim o fim se fez. Foram todos dizimados na terra. Sobrando apenas os artistas, Não todos, Apenas aqueles que sabem que morrer é parte do processo criativo, Aqueles que carregam nas entranhas Estranhas partes da morte diária da coletividade, Todo artista morre para os outros cada dia um pouco mais. Há no planeta um solene silencio fúnebre, Pelas almas que se perderam no fim, No meio e no inicio. Agora somente há carcaças, Não há mais nomes, Gêneros, Classes. O mundo se divide entre mortos e artistas. Os artistas não se dividem mais, O ego morreu dizimado com os políticos, com os empresários e Com os jogadores de futebol. A vida há de seguir surpreendendo, Nascerão novamente flores dos peitos dos poetas, O cantar dos pássaros das gargantas dos músicos, O céu estrelado das pontas sujas dos dedos dos pintores E todo o resto das almas dos atores, Deles surgirá um novo mundo renascido daquele que já se foi. Foram todos dizimados na terra. Sobrando apenas os artistas e a esperança de um novo mundo, Um mundo que possa renascer dos sentimentos daqueles se reinventam dia a dia.

Comments