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João-de-Barro

  • Foto do escritor: Welington Moraes
    Welington Moraes
  • 8 de abr. de 2015
  • 1 min de leitura

João tinha o corpo sujo de barro, Um pó avermelhado das ruas por onde caminhou, A lembrança suja de seu passado. João carregava na pele a marca de quem nasce só, Sem esperança, Chorando à toa no meio da seca, As lágrimas misturadas ao pó virando barro, Moldando desde o nascimento sua alma. Barro que João leva hoje junto aos calos que endurecem suas mãos, Junto às profundas rugas que lhe entregam a idade, Junto à barra da calça, Embarrada barra da calça. João carregava aquele barro em seus pensamentos, Sujos pensamentos, Humanos pensamentos, Difusos pensamentos. João não sabia o significado da palavra difuso. João não gostava muito de shoppings, Temia ficar barrado a frente da porta, E uma vez que a porta abrisse automática, Perde-se lá dentro, Envolto de coisas que não precisava, Temia ter que começar a precisar dessas coisas. Por mais banhos que João tomava, O barro nunca o deixava, Deixando João vermelho, De barro e de raiva. Assim ia acontecendo, Por mais outros Joões que passavam, Por mais asfalto que a cidade vestia, Por mais que a vida escalasse o alto ponteiro do tempo, Por mais que o futuro acontecesse, A poeira insistia em sujar aquele pobre João. Aquele velho João, Aquele sujo João, Marcado desde o nascimento a ser amado por um punhado De barro.

Gaiola de pássaro verde

 
 
 

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