Facebook ou Das palavras que escrevo na vida
- Welington Moraes
- 8 de abr. de 2015
- 2 min de leitura
Queria ter o poder de poder ser o que escrevo, De não mascarar com palavras a face obscura do que sou. De não pontuar com malícias as maldades minhas que nos outros enxergo, As bondades que escrevo em páginas que não são vida, A hipocrisia que minha boca comunica, formando com bits a criação da vergonha. Queria poder ser o que na foto do perfil transpareço, Queria pensar agora o que escrevo, Já que muitas vezes escrevo o que não penso, Sou o que não quero, Faço o que não sou, Esmago em outros a sombra daquilo que se parece comigo, Enxergo defeitos no espelho que de quebrado me transforma em mil faces, Todas por mim desconhecidas, Pedaços daquilo que sou. Nos perfis que crio na rede de mentira que minha rede social socializa, Falo por sinais coisas que não queria ouvir, Repasso frases de outros que nada dizem sobre mim, Falo sobre arte odiando artistas, Falo sobre vida odiando seres, Falo sobre esporte odiando bolas, Falo sobre ti odiando a mim. Odeio tanto aos outros que posso num sorriso dissimulado lhes desejar bom dia, Acariciar-lhes o ego, E num movimento rápido de páginas, Mutilar suas personas em conversas de 240 caracteres. Posso falar de outros assim como falo de mim, Sem compromissos e sem verdades, Palavras corrigidas automaticamente pelo programa que me programa a dizer o que não quero. Posso largar no infinito digital, Sem preocupações nem mágoas este rascunho que agora escrevo, Sei que ele falará a cada olhar uma mensagem diferente, E poderá ser compartilhado sem alterar seu conteúdo ou seu sentido por pessoas que assim quiserem, Mudando apenas no final o login do usuário que o assina.

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